Ontem eu te vi

Ontem eu te vi.
Foi a primeira vez que olhei bem para a sua cara, desde tudo. Achei que fosse sentir raiva, ranço, saudade, um monte de coisa, mas não senti nada. Foi como se tivesse passado um estranho por mim.
Eu já sabia que não tinha mais nada me ligando a você. Lembro do dia que acordei e eu pensei que não me importava mais com você. Lembro do dia que ri pela primeira vez, riso mesmo, sobre algo relacionado ao termo que me trouxe paz e não peso. Lembro de todo o processo para esquecer o que eu queria que a gente tivesse sido.
Mas, então, ontem foi um dia bom. Você vê e não sente nada.
Só que hoje eu entendi esse nada.
Fiquei mesmo esperando a raiva vir, mesmo que tardiamente, porque eu sabia que ainda sentia ela se arrastando lá no meu fundinho... e hoje ela veio com tudo.
Mas, não de você.
De mim.
Raiva de ter tolerado tanta falta de compreensão, de ter dado brecha, deixou a porta aberta pra mais desrespeito e mentiras entrarem. Agora eu pago a conta enquanto você segue a vida.
Sabe quantas vezes eu fiquei feliz em vomitar, lembrando de momentos específicos em que você me magoou tanto, que ainda dói como se fosse hoje? Não, porque você não estava aqui. Mesmo que tivesse, não “podia” ficar para lidar e se responsabilizar.
Eu não sei porque estou te escrevendo já que, se passar o olho, não vai processar metade e, ainda assim, não vai marejar os olhos, nem fechar a garganta, nem apertar o peito, nem embralhar o estômago, nem sentir vontade de gritar até a dor sumir.
Nos dias bons, sonho que nada aconteceu.
Nos ruines, eu só queria descobrir como me perdoar _por ter sido tão inocente e dado acaso pra algo que me magoou nesse nível, de às vezes paralisar _e seguir em frente.

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